"Às
vezes surge essa vontade incômoda de chorar um texto para fora de mim. Um âmago
forte, que corrói, arde, e nos infla até que a dor seja estourada como um balão
e as palavras já tão naturais escorram dos olhos. Por desespero, na tentativa
de refugiar tudo isso que sinto e tornar imortal esse sentimento, no caso de
dias em que me parece que brevemente nem toda a poesia do mundo conseguirá
abrigar esse pesar, essa gravidade que se chama “amor” e me puxa para tão perto
dos seus olhos perversos.
Sou
capturada, constantemente, pela armadilha de ter que explicar a minha falta de
sensibilidade perante os maiores horrores e rangeres de dentes. Ora, haveria de
existir uma maneira de compensar meus excessos. Admito: as lágrimas de um
escritor são seus versos. Ser realista nunca foi um santo remédio. Optei pela
dor de cravar em meu próprio coração uma adaga, na busca de algo que me bombeie
sem esforços: melancolia.
Acontece,
anjo, que isso nunca foi sobre mim. Não te recomendaria a rima alguma. Enganam-se,
entretanto, aqueles que pensam que o poeta domina a sua própria poesia.
Aviso-lhes: não se faz eu-lírico. Torna-se. Nessa orquestra de frases sem
palavras e desconexas com o íntimo de nossas almas, o som da sua melodia tocou
meu coração como se fosse corda.
Que
equívoco enorme foi apaixonar-me por seu mar inquieto. Confesso que sempre fui
adepta a aventuras, mas de exatos 8 meses, 5 dias, 2 horas e 35 minutos pra cá,
tenho me afogado todas as noites. Um choro de criança, ou talvez a voz da
esperança. De repente é como se as semanas perdurassem anos, os segundos perdurassem
séculos, milênios talvez. Ansiedade. Ou talvez o seu nome.
Poderia
ter todos aos meus pés, mas do que me adiantaria? Continuaria te tendo na minha
cabeça. Não aguento mais ter de te ver preso como obra prima atrás dessa parede
de concreto que se chama mistério. Deveria ter revisto mil vezes os contratos
antes de comprar a sua ideia de amor, querido. Mas você me conhece, sou
impulsiva. Talvez não por opção, à priori. Agora estou condenada a passar o
resto de meus dias encantada com uma fotografia coberta, feita pelo maior
artista que captura amor.
Não
tenho o estômago necessário para esquecer-me da sua aura. Abandonar esse amor
não poderia jamais. Entenda que, para domadores de estrofes e rabiscos, apagar
parágrafos pode ser o pior dos sinônimos de dor. Assusto-me ao encontrar sua
essência que serve de guia na escuridão, mas afinal, como diria o grande mestre
domador de palavras, “essa ferida, meu bem, às vezes não sara nunca, às vezes sara
amanhã”. Só espero que não faça as malas tão cedo, pois minhas rimas ainda não
se preparam para receber como hóspede nenhum outro assunto senão a nossa
inexistente paixão. "
Isadora Egler