quinta-feira, 10 de abril de 2014


"Mesmo sabendo que ela estaria sempre ali, petrificada, parada, branquinha, encabulada e estacionada naquele céu enorme, sendo objeto do meu maior desejo, onde posso dizer que encontro (pretensiosamente, mas digo) o reflexo da minha própria alma, diversas vezes me peguei desejando o quanto queria que a lua caísse.
'Ela deve cansar de passar todas as noites naquele mesmo lugar', penso eu. E mesmo rodeada com as mais belas estrelas, eu aposto todas as cadentes e supernovas que insistem em exibir a sua liberdade, que ela já se sentiu só alguma vez e desejou desabar, ou até mesmo chover com a tão inalcançável autonomia das gotas. Deve perguntar-se constantemente o porquê dessa beleza toda, o porquê dessa imensidão que, em tempos de trevas, nos traz uma avalanche de melancolia e faz surgir o questionamento 'quem sou eu no mundo?' e , principalmente, deve ter questionado a si própria o porquê de toda essa exuberância, se não alcançará nunca a jubilidade de ver como é bem mais lindo o céu visto daqui de baixo.
Será que nunca se pegou sonhando acordada, pensando em um olhar admirado vindo da terra? Ou quem sabe finge-se apaixonada pelo mar, enquanto observa nele um reflexo de calmaria vindo dos raios de sol? Talvez o eclipse mesmo tenha sido criado como forma de lembrar-nos que nenhum amor é impossível... Quantas dores cabem em um coração de lua?
Eu sei, não deveria atribuir à essa medrosa que me vira as costas doze horas por dia, toda essa admiração. Me cativa, todavia, a capacidade de continuar girando em meio a tanta solidão. Eu consigo, afinal, tenho palavras. Mas qual seria o escape da própria lua, que vive em um eterno mundo sem resposta, onde nenhum de seus desesperos são ouvidos? Ainda tem que aguentar exclamações ingratas daqueles que dizem que tem fases. Ora, é claro que tem! Não pode ao menos disfarçar um sorriso em forma de 'minguância'?
O ponto que me conduzo, em meio a madrugadas intensas e copos de café, é que a lua, com suas cíclicas e eternas temporadas, somos nós em meio a uma realidade que nos joga na cara o quanto não existe um "nascer da noite". Porque no fundo, sabemos, crescer dói, mudar machuca, mas nada arde mais do que estar ancorado a um lugar ao qual não pertencemos."
Isadora Egler

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