domingo, 24 de agosto de 2014

a gente nasce quando quer. quando decide que nasceu na vida. o minúsculo mundo, o baú dos sonhos. trancafiavam com êxito os pequeninos sofrimentos. matéria prima de um possível diálogo com a cabeça apoiada no vidro. a grande fascinação do renascer é não enxergar o mundo com olhos de criança. enquanto essas nasciam. boa sorte. o relógio não se esquece de badalar meia-noite. olhar o cronômetro arrepiava a terceira vértebra como o puxão de cabelo pelas unhas esmaltadas. colhíamos o trigo apenas pelo deleite de olhar a vista. ao final do dia, o sorriso trabalhador quase que implorando por mais uma cerveja. o rosto infestado de sardas e as mechas louras sufocadas em tranças. cansados dos somente olhares negociados com as moças de riso forte e pálpebras frouxas, entendemos finalmente: lei seca americana alguma seria pior que a greve do sexo ditada por Aristófanes. a conclusão foi de que o ser(vidor) humano destruía a si mesmo pensando que poderia tornar a educação uma fórmula, ao passo que acabávamos conosco na companhia das prostitutas da beira de uma estrada qualquer. finalmente. finalmente nossa beleza não mais era marcada por nenhum vão lateral nas coxas, mas pelo excesso de gordura e o cabelo emaranhado. o querer em sua forma mais bruta. o de um sangue elitista que incessantemente salivava pelo gosto da caça. o som gordo que era a reclamação da doença social. a imitação do barulho de tosse. canalhas. mas não éramos todos? no dado instante em que dissemos que as ideologias eram ir fundo demais, tivemos de nos separar. tornamo-nos comuns. resto. nossa lucidez nunca foi saudável. havia uma espécie de úlcera causada pelo julgamento, infecções ocasionadas pelo extremismo necessário. insensível. sem sinto. sem cinto. o que faz você feliz?

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

o som do pneu desgastando o asfalto ecoava como um grito. o sim do pneu. grito contido. grito quase familiar. por pouco poderia ter saído da boca ao ter visto as duas crianças se pertencendo. crianças éramos nós. há quanto tempo? dois ou três meses? a maturidade precoce era culpa da falta de primavera na cidade seca e amarga. aceitamos a proposta doentia de desabrochar a flor que guardei com tanto zelo. motivo de chacota e amedrontamento nas vielas do bairro. à medida que o corpo florescia, o horror da solidão em meio ao entardecer. a natureza, sinto dizer, longe de ser perfeita. se fosse, ah se fosse. não teríamos nunca nos encontrado. nesses dias cotidianos, te avistei sorrindo com olhos indiferentes. indiferentes como um buraco negro que opta, por puro deleite, não devorar o planeta à sua frente. cheio de si e vazio de nós. foi amor exatamente como havia imaginado: seu um metro e setenta angustiado dentro da camiseta de botões e a bolsa transversal. foi amor porque doeu como um tiro no escuro. mal percebemos a sombra estampada na parede. havia luz: havia a consciência do erro e tapamos os olhos. um ao outro. amor porque, hoje, pode ser dito sozinho. te amei com todos os erros gramaticais e dissensos verbais imagináveis. como uma esteira que cobre todos os caminhos, corro tentando alcançar sua autonomia. estupidamente continuo no exato mesmo lugar que me deixou com seu toque métrico e eletrizante. posso dizer que te amo? permissão? te amo como entonaria um poema dadaísta cara a cara em Zurique. 1916. só sei amor. só sei, amor. sei que roubei teu nome com a cara delinquente. apenas pela poesia. o efêmero sentimento e os eternos rascunhos emaranhados. não te gosto, meu vazio nem mesmo arde. compro imaginações a preço do crack na zona norte carioca. rimo tão facilmente como o ecstasy que desperta quando tudo deseja adormecer. se nosso amor teve frutos, foram esses maçãs de Éris: pomos da discórdia. te amo pela arte. pelo som que o nome faz quando aperto os lábios, estalando e tocando o céu da língua pela sua primeira letra. nas esquinas em que te cruzo, o que refresca é a promessa de canonizar nosso desvio. “quem planta vento, colhe tempestade”.

sábado, 9 de agosto de 2014


Aqueles dias
em que o poeta
anda tão inspirado,
que poesia para a alma
é quase como
psicografia.
Simplesmente
por arte não ser
ciência,
nossa liberdade
torna-se
questão de decência:
aproximação
e afastamento
podem ser,
da terra,
nossa visão
em uma viagem
de balão.
Abandonamos,
sob a beira da estrada,
a definição
por metáfora,
essa prática,
estática,
de-sa-fo-ra-da.
E então
permitimos
que
dia e noite não signifiquem
vida e morte,
chuva
não seja sinônimo
de recomeço,
desejo concedido
não passe de sorte
e olhar da donzela
não termine em beijo.
Nada mais é proibido:
carnaval!
O vestido despido,
nosso rosto no mural.
Em resposta
a essa proposta,
nossa prece
acontece,
a nobreza
se descomporta
o atrevimento
arromba a porta:
crime!
Regras caladas,
fechadas
e trancafiadas.
A final confiança
para crer:
nossa rima
carente, desprovida
pobre,
desfavorecida,
se enriquece
em nome
do nosso querer:
ninguém mais
vai me dizer
como minha poesia
deve ser.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Oportunidade. Cantar para si mesmo na tentativa de espreguiçar o que amaldiçoou. O dia nascia e o céu chorava como uma criança desgarrada do peito da mãe. Por que tudo havia de parecer insensato?

Vivíamos em um cerrado constante sem estações definidas. A seca real era a do sentimento: há tempos não sentíamos o toque das gotas no coração. Épocas de má colheita. "Amanhã vai ser outro dia". Repito e apoio-me no sobreviver das superficialidades. Como se o cotidiano não tivesse problemas. Apesar de você.

Poderia alimentar-me de seus silêncios. Preferi, no entanto, servir-me de poesia. Ando de lado, por entre as ruas dessa cidade geométrica. Temo esbarrar em seus olhos abstratos. Liberdade. A semana começava e tudo era igual. Imaginava o porquê das fases, o porquê do ser humano ter sido, desde o princípio, fissurado por divisões e seus reinventos.

O novo início não fazia com que voltássemos ao ponto. A verdade é que, apesar do tempo que mascara a reconciliação, a ferida do que poderia ter sido não cicatriza jamais. A gente vai vivendo. Crendo na arte vendida e no sorriso amarelo. No manifesto e na mudança. Na ação e reação. Na existência do amor. Carregamos o peso do lixo sentimental e as sobras da paixão. Fingimos. Só queríamos acreditar. Queríamos que funcionasse. Queríamos querer. Logo nós, apaixonados por recomeços, só queríamos que a segunda-feira acabasse logo.

domingo, 27 de julho de 2014

Vai chegar o dia
em que a poesia
escorrerá
pelos nossos olhos.
O futuro mentido
chegará no frio, 
sem casaco,
sem botas,
sem luvas,
sem sentido.
A desculpa usada durante tanto tempo
sobre o amanhã diferente
que dá orgulho,
não passará da mais pura ilusão:
vontade de viver
em cima do muro.
Foram tantos anos,
sono, sonho, panos,
tecendo o mais belo vestido,
coisa de princesa,
estudando o amor:
matéria da realeza,
símbolo de nobreza,
para um dia,
no entanto,
os ratos,
raça da desilusão,
correrem dos esgotos
e roerem tudo aquilo
onde cabe um coração.
O ateliê fica vazio,
clientes desapropriados choram rios,
a monotonia
apropria-se do local.
Decidimos por seguir,
logo,
uma vida normal.
Cedemos ao encanto da rotina:
o que parecia tão maravilhoso,
transfigura sina.
Ah,
a infância
acabará.
É,
o destino
é
um verdadeiro
cabaré.
E já consigo desenhar a cena:
o vento frio entrando pela janela,
a TV ligada
discutindo a terceira guerra,
mente vazia
trabalhando em suas mecânicas diabólicas:
queimaremos todos os livros de amor
e acenderemos uma fogueira
em busca de calor.
Mais tarde,
olhando para ela,
perceberemos:
durante toda nossa vida
temos sido
a chama de uma vela.
O desejo pelo diverso apagará,
nada mais em nós
conseguirá queimar.
Os olhos
começarão a marejar
e nem o mais experiente dos marinheiros,
terá habilidade de navegar.
Os dedos congelarão,
surgirá a tentação:
às brasas
se jogar.
Pois não há força nesse mundo
que aguente o peso
da saudade do verão,
de um mar de desilusão.
O que um dia foi ruim
nunca mais se tornou bom.
Pele
que não sente mais toque
ou sensação.
O medo,
então,
esvair-se-á.
Atirar-se nela
será o momento presente.
O romance de que tanto falam
estará demasiadamente ocupado
para nos libertar:
assim se cumprirá a profecia
dos poetas
que tanto escreveram
sobre amar:
a própria vida
assassinar.
A rima perdida
finalmente encontrar.
Das mentiras passadas,
se desgarrar.
Sentir o acalento,
o real paraíso.
A morte
abraçar.
Sem mais
se preocupar,
à noite,
se a manhã

de
chegar.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Nota sobre o amor:
Amor é aquele cuidado distante, aquela preocupação vassala. A prontidão despertadora. O abrir dos olhos na noite que afasta e faz com que floresça um jardim interior regado pela falta. É a luz acesa, instantes após o pesadelo. Amor lacera. Impossibilita a fala. Amor não dialoga, poetiza. Marca o silêncio e destrói dos poliglotas toda a sua denotação. Tensiona músculos para o toque. Cruza estradas e apaga da memória caminhos. Amor faz perder-se. Amor esquece e faz esquecer. Inverna o verão se faz frio ao ser amado. Estremece o corpo, caso adoeça. Na mesma frequência. Coração que junto bate. 16 por 9. O verdadeiro amor não é grito: é silêncio no vácuo. Sorrateiro, por debaixo dos panos e sob tapetes. É embebedar-se de sobriedade para lidar com situações. É sorriso proporcional. Amor só é, não deixa de ser. É inteiro por bem e nem um pouco egoísta. O legítimo é ideal, é escolha de servidão. O verdadeiro amor é platônico.

domingo, 20 de julho de 2014

Contornou o corpo
com os traços que se perdem
em meio à veiculação.
Recuperou o tempo escorrido
em ralos daqueles
que impedem afirmação.
Sussurrou ao pé
do próprio ouvido
palavras de louvor.
O cinza da imperfeição,
coloriu como o primeiro dia da primavera:
de flor em cor.
“Amor é ninho”
e corpo é moradia,
perigo e ameaça,
mas lar do dia-a-dia.
Desacreditou
no cultivo de flores:
o verdadeiro jardim
é interior.
Não se fez
boneca de porcelana,
mas o asfalto deformado
pelas marcas do calor.
Em caso
do frio da madrugada,
a verdadeira faísca
era dentro de si.
Suspiro,
propriedade,
auto-tudo-o-que-fosse-bom.
Não havia mais
motivos para mentir.
“Mulher desgovernada,
sozinha na madrugada!”
Tudo o que ouvia
era “jovem libertada”,
tudo o que enxergava
era a tão vazia arquibancada.
As melhores poesias
eram egocêntricas.
Largou a escrita
para o garoto
A,
B,
C,
D.
Foi,
na noite
de domingo sem beijo,
o alfabeto inteiro.
Não se reduziu
a adjetivos fajutos
impostos pela mídia.
Corpo
não é pagão.
Corpo
é oração.
Livre de preconceitos
acobertados por opinião.
Percebeu,
então,
o excesso de vazios.
Parou
de preocupar-se tanto
com o tamanho
dos infinitos.
Dói.
Corrói.
Constrói.
Anulou
as frases com era.
Tornou-se
atemporal.
Ao distante passado,
acenou e deu oi.
Pela primeira vez
na vida,
foi.

Isadora Egler

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Só,
na tarde de domingo,
o
obstinado
abandonou.
Deixou-me,
com dores no colo,
prestes a um exemplar de agonia,
parto de risco:
dor.
Levou embora a reserva,
as economias,
tudo aquilo
que denotava
poesia.
O telefone tocava
e tudo o que ouvia
era a mudança,
voz alterada:
-Sinto muito, senhorita.
(Senhorita?)
O foragido que procuras
nada mais é
do que um péssimo ator.
Além de roubar,
tudo o que tinhas,
ao teu lado,
simulou amor.
Ora,
mas se o grande poeta
não passava
de um guerrilheiro
belicista,
como
me explica
os olhos
de artista?
Ou melhor:
se não passava
de um grande vilão,
como
desvenda
o fato
de ainda bater,
em meu peito,
um pulsante coração?
-Ah,
veja bem,
confiou na tentação.
Esqueceu os textos,
apelou pra sedução:
a imagem
do plebeu
ia do improviso
às loucuras por paixão.
Pudera!
O trovador,
então,
não chamemos de vilão!
Mas de verdadeiro comediante,
humorista
de esquina,
quinta
categoria.
A peça sobre desleixo,
nada mais era
do que embuste e armação!
As cortinas se fecham,
risos contidos
sobre a tentativa
de desesperança.
Nessa dança,
impostor,
sabe muito bem
da especialização
em não-amor.
Não entendeu
exatamente
como expressar
a essência
do chão duro.
Na verdade,
farsante,
o problema
é ter crido
piamente
naquilo
que é seguro.
Leve,
como nunca antes!
Abortei
a possibilidade
de um futuro.
Métrica mascarada,
no entanto,
não engana
apreciadores de sentimento:
a lição
da fábula malfeita
é orgulho ferido
que seu nome
consome,
afinal,
já dizia o velho
“É fácil ser poeta e
tão difícil
ser homem”.

 Isadora Egler


Tic-tac. Tic-tac. O relógio absurda cada segundo. Destruidor. Perverso. Como maquiavélica tentativa de lembrar-me os vazios eternos dentro de instantes. Milésimo a milésimo, atinge o êxito. A galinha quebrou ovos dentro de si mesma, como o poeta perdeu a poesia. A vida se esvai.
Diga-me, Clyde, não querias que fosse assim a minha prosa? Cheia de mágoa. "Dar voz ao escárnio da dor". Algemou-te ao tentador vazio. Preenchi-me com o sabor da incapacidade e o prêmio pela prova de fogo foi o silêncio da tua boca que abriga cigarros manchados de mentira. Testaste-me. Nem mesmo uma nota recebi. Uma nota melódica, quisera eu. O cantar dos pássaros calado pelas sangrentas mãos do inverno.
Passaste pela porta. Como Alice, lembra-te da poesia? Abafo o choro, o inquietar de pernas, a agonia corrosiva: de que maneira conseguiste? Sentes que estás a diminuir? Carregando um ego deste tamanho!
Se não aguentas a acusação, falso trovador, por que me feriste? É claro! A ilusória rebeldia. Deveria ter preparado tropas. Uma pena cair na ingenuidade de que soldado ferido não faz guerra. Armaste batalha muito previamente. Calculista. Calculado. Segui a estratégia do amor, enquanto foste liderado pelo desapego. Espadas à mostra: ataque à entrega.
Não fui Bonnie para ti. Recusaste a perda da inocência com copos virados e mãos entrelaçadas. Cigarros fumados e jogados fora. Uso. Estavas apenas sendo econômico, poupando o pouco sentimento que corre em ti. Disseste "jamais" e abortaste um futuro. Há um espaço que é teu e entendes muito bem o quanto infinitos são insubstituíveis. Pesadelos com teus olhos. Dor. Caso me encontre no peito da solidão, não me abrace. Fim. Reticências mortas.

sábado, 12 de julho de 2014


"I can't believe how you looked at me
with you James Dean glossy eyes,

in your tight jeans, with your long hair
and your cigarette stained lines...
Could we fix you if you broke?
And is your punch line just a joke?”

O grito contido, assassino. O fôlego aprisionado entre as ruas dessa cidade, consegues escutá-lo? Enxergar-me pendurando sorrisos nesse rosto sem retratos? O cheiro de podridão, dos restos teus exibidos em sinal de intimidação, em cada esquina da minha vida, consegues senti-lo? A alternativa única, obviedade em forma de simples escolha, é de que optas por fazê-los. Ou de que, em um caso talvez nem tão último, teus sentidos fecham a cara e invalidam-se para mim. Como a terceira margem do rio. Algo que observarias atentamente, ansiando pelo dia em que pudesses fazer-te coragem em sua forma mais concentrada. A grande lástima é que seguistes o caminho contrário à correnteza: correste assustado para o colo da mãe que desejava ser apenas biótica em uma realidade tão falecida. Conforto.
Não percebes? A realidade criada ao teu redor foi a ideia de aconchego nos desafios da vida. A indiferença, a luta já perdida, o caminho bifurcado. Desculpas sinceras por ter percebido o grande teatro. Más línguas dizem que homens são menos si próprios quando falando em primeira pessoa, dê-lhes uma máscara e a verdade se revelará. Ou se relevará, no caso de amor. Não poderia concordar mais. A viagem de um extremo a outro, a escrita acumulada, a morte juvenil. De uma capa que cobre o medo, não passariam. Perguntaste-me se estava nervosa. Ora, as atitudes não mentiriam. Não esconda, entretanto, a euforia. Poetas tem um quê de faro de detetive. São treinados para capturar emoção e fotografar com os olhos: no álbum das provas do crime, teu coração acelerado é a mais bela das evidências.
Apodrecerás na prisão que criastes para ti. Com a porta aberta ainda por cima, fingidor. Simplesmente porque o real aprisionamento está na mente. A saída fecha-se cada vez mais, à medida que te perdes na hipocrisia de tua ideologia mentirosa. Por que não largas a escrita, se és tão brilhante como ator? Tenho a impressão de que, nessa grande galáxia que é a vida, me guiei por uma estrela cadente. Atraente em todos os aspectos, o brilho dela quase fazia parecer que, por um instante, a desordem dos meteoros que insistem em colidir não havia. Faço, todos os dias, o mesmo caminho, procurando a pedra em que tropeçamos. Me perco. Perco tempo.
Entendes, alvo do meu caos, que chacoalhaste meu mundo e deixaste cair os últimos exemplares de esperança? Logo você. Logo poeta. Abandonaste-me com o desalento em alcançar oportunidades. Testou meu jogo, verificou excelência para que pudesse assumir cargos em tua vida. Uma forma de abuso sentimental: senti-me nua de certezas. Pensei (erroneamente) que pudesses salvar-me do nada que me tornei, enquanto acreditava ser tudo. A história, garoto dos lábios de nicotina, apenas me lembrou que é preciso ter cuidado com a dor gritante de sofredores. A verdadeira decepção arde, mas não berra. Nesse conto que jurei escrever como ouro gravado, posso ter cometido grandes equívocos quanto ao número de capítulos, mas sabes bem como sirvo para o cargo, menino dos cabelos longos. Limito-me à quantidade de parágrafos, mas deixo o melhor para o final, a revelação das verdadeiras personagens e o choque trágico: o amor se vai, mas a vingança bate à porta morrendo de saudades. 
"And I know that it's complicated
But I'm a loser in love
So baby raise a glass to mend
All the broken hearts
Of all my wrecked up friends..."
                       (Isadora Egler)

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Ah, meu bem! Não se cansa dessa vida de eu lírico? Poesia pra lá, verso pra cá, beijo transformado em encontro de lábios, agonia, em olhos cerrados e dor, escorregão no chão de calcário... Não se cansa de traduzir meu choro com sorriso no rosto e bom grado? Se um dia, por acaso, fugisse de todo esse meu amor rimado, ora! Seria o pulo do gato! Dormiria uma manhã inteira, esperando o sonho que trouxesse a poesia perfeita. Entendo a exaustão, poderia até fingir que não tô nem aí, nem aqui, se você me ligasse. Mas a verdade, meu bem, é que não queria que você se cansasse.
(Isadora Egler)

Sabe o quanto gosto de escrever,
sei
o quanto gosta de matematizar.
Para tornar mais simples 
o entendimento,
decidi poetizar:
Ah, meu bem!
É que às vezes acho
que como número primo
nasci. 
Carregando a sina eterna
de um amor
dividir
por um só coração
ímpar,
isolado.
Quase um zero à esquerda.
E por mim.
Não vim à luz
para ser composta!
Não terei jamais
mais
de dois divisores.
No conjunto
dos números primos
[meus colegas solitários],
somos inteiros
sempre positivos,
problemas
e dores.

(Isadora Egler)

Vagabundo, sem vergonha. Roubou o dinheiro pra financiar a maconha. É um marginal, dizem. Malandro! Um mal educado, só não se esqueçam que a educação não veio do Estado. Faminto, desletrado, nem o nome sabia escrever. Nem mesmo imaginara que esse, tantas vezes, aparecera na tevê. A fome batia, Francisco corria pra praça a fim de abocanhar a próxima vítima. Não entendia, mas lá, sempre ouvia falar desses tais de elitistas. Aristocratas, incomodados com a presença de vira latas, ignoravam seu próprio existir! Nem identidade queriam pedir. "Ei, burguês babaca! Sua mãe tem pedigree?" Ora, que covardia! Todos sabemos da opressão que sofre essa classe branca noite e dia! Não é de rir? Consideram-se como nós! Injustiçados pela alegria. Anseiam o poder da fala, mas não desejam os anos de escravidão. Francisco podia ser preso, perigoso, apanhado. Seu sol, a partir de agora, tem permissão para nascer quadrado. Só pedia, coração, “que a lua para todos nós também nasça redonda”, afinal, cantamos felicidade, e sobretudo, pagamos a conta.
(Isadora Egler)

Durante todo nem tão santo dia, carreguei o fardo de ter como identidade a própria opressão. A afinidade com o oposto sempre foi motivo para enorme fragilidade: sexualidade como jarro de vidro, resultado: reclusão. A vida feriu-me de tal maneira que ainda pergunto-me se o próprio paraíso será digno de perdão. Sofri a dor da carne, do dilacerar, do julgar, do medo tão presente de não mais escolher a quem amar. Ora essa, vivem dizendo-me que o bem deve ser feito sem olhar a quem. Hipócritas! Tudo o que tem acontecido é o preconceito de pensamentos extintos e o enxergar banhado de desdém. Há uma sina como chama, a qual dentro de mim, insiste em incendiar. Abandonado sob a luz da promessa de um céu, odeio-me mais do que qualquer um possa odiar. Deveria me envergonhar. Deveria Me Envergonhar. Virar homem, macho alfa, ao exército me alistar, “Isso tudo é doença, É fase, Vai passar”. A liberdade, abdicar. Afinal de contas, não mais existe aquilo pelo o que marchar: a opção virou desrespeito, a família devemos salvar. Arrastem-me do mundo, que como máquina em fábrica abandonada, o afeto, em ódio, decide transformar. Razão para os olhos abrir não há. Calado, durmo só mais essa noite, com passagem comprada para o mundo belo em que igualdade não seja somente questão de privilégio.
(Isadora Egler)

Lembro-me das vezes em que fui moça, quando a paixão quisera-me mulher. Mãos sem dedos, bocas sem dentes, olhos de menina e corpo adolescente. Pele fina, alma translúcida. Aponta-me como ingênua, nua de sentimentos, camada fina de quem nunca amou. Meu ser é descoberto, derrubado, brilho nos olhos, joelho ralado. Acordo atrasada, falta de ar, maturidade: atenção, e cuidado. “Garota, coração vazio é melhor do que cheio de lágrimas. Lembra-se do rapaz, o que fez com Fátima?” Lembro. Não me lembro. Finjo que sim. Respondo com dor o que espera de mim. A rotina segue-se como beira de estrada, minutos correm, verdadeira manada. Não há mais nada. O primeiro nem mesmo me notava. O segundo supunha-me e gostava. O terceiro fez do amor uma dança. O quarto tinha olhos de criança. O quinto prometeu com uma rosa. O sexto deixou-me esperançosa. O sétimo ainda está por vir. Aspirante a negligente, ar de indecente, abandonado por aí. A cor do olhar, o paletó no altar, a canção do casal, a declaração oficial, disso, nada sei. Intrínseca é, no entanto, a característica do acreditar. Amado, não terá medo. A consciência da cor do vinho não será nenhum segredo. Crédula, nunca mais. A máscara de anjo, não o satisfaz. Experimentação será o primeiro objetivo. O sétimo, como ninguém, saberá que escrevo poesia tanto quanto a vivo.
(Isadora Egler)

Socorro!
Mantiveram a poesia
em cativeiro. 
"Urgente!",
grita o Seu Xerife.
Em um só
clique
os amantes
congelaram-se!
Oh meu Senhor,
a cidade está em caos!
Ligue a televisão,
rápido,
leia no jornal.
De repente há permissão
para amar sem mais pressa:
os beijos provocantes,
motivo de desistência
ou espera
não são curados com o tempo
ou compressa.
Um passarinho me contou
que lá pela praça
onde Lavoisier chorou,
um mágico
chegou.
Não,
não tem cartola não.
Uma caixinha encantada
é sua varinha de condão.
"Ora essa,
o que faz
esse rapaz?"
Em um piscar de olhos
emprestados
(e sabe-se lá, amaldiçoados)
tornou o sorriso
da morena que tanto amo,
eterno,
petrificado.
Cospem as más línguas
que tempo lhe é infinito
e movimento
não é retrógrado.
Capturaram a poesia
e o culpado é o fotógrafo.

(Isadora Egler)



Doutor,
tô com um problema sério:
faz tempos
que a poesia
não me dá
um alô.
Já tentei de tudo,
do alemão ao sueco:
tradutor;
Gritei bom dia:
xaveco;
Comprimi o grito:
afundei a dor.
Dancei o tango:
boneco;
Como engenheiro:
o reto;
Trancafiei-me:
calor.
Diga-me o que faço
para que finalmente
volte
a rima
que me deixou!
“Ora,
parece-me
que como Seu Manoel,
anda
com doença
de grandezas
e pelas regras,
se levou.
Sem medidas,
receito-lhe
o mais simples da vida:
louvor;
Cura e sina,
sem mais 
despedidas:
amor”.
(Isadora Egler)

terça-feira, 8 de julho de 2014

Lembro-me exatamente da risada exagerada de meu pai na sala de estar, naquele começo de julho. O som da televisão misturava-se com a euforia que denotavam os fogos, explodindo no céu que terminava de se pôr. Anos mais tarde, descobriria: existe coisa mais bonita que um show de fogos de artifício? O colorido preenchendo e recolorindo o tom azul de monotonia. Observava-os com olhos de criança curiosa. Eu, que sempre fora tão medrosa em relação a tudo que demonstrasse qualquer mudança quanto ao que me era comum, pela primeira vez, os achava belos. Um palco azul claro, que dava espaço finalmente às belas bailarinas e suas saias coloridas. Voltando ao ponto, a vida costumava ser uma verdadeira dança com direito a cabrioles, echappés e jetés. Era 2010, e eu era só uma moça com nuvens na cabeça e a cabeça nas nuvens.
Aquele dia 2 foi uma semifinal, Holanda e Brasil. É claro. Por isso os fogos. Por isso os comentários e risadas exageradas. De fato, meu pai nunca gostara de futebol. Talvez a reunião da família e a saída ao meio-dia do trabalho fossem consideradas bons motivos para deitar-se no sofá desleixadamente e deixar escapar piadas sobre o jogo desencorajante. Minha mãe agarrava as pernas em sinal de um misto de aflição e esperança. Era notável a maneira como, para ela, tudo assumia uma intensidade maior. Às vezes, com a caneta entre os dentes, nas horas últimas da noite, convoco-me a pensar a respeito da razão de tanta sensibilidade em minha cabeça. De onde teria vindo, exatamente, o motivo da poesia que me torna, hoje, dependente? Das pequenas coisas, imagino. A unha roída, o cabelo preso despretensiosamente em um coque no topo da cabeça, os gritos abafados pelo “quase” ...
A estesia acumulada, a capacidade de sentir todas as ações com direito a devastação inteira de meu ser, concluo: é resultado conjunto da maneira como me deixei afetar pelas reações daqueles que me cercam. Talvez sempre tenha havido essa tendência de deixar-me consumir. Tudo bem, de qualquer forma. Já virou a mentira mais banal a de que agradeço à emoção, por ter me dado como presente o dom de criar versos. Admito que, imaginar como seria a vida sem estrofes rimadas, causa certa angústia e até mesmo um pouco de náusea. Nunca gostara de fazer cálculos. A ideia de desperdiçar uma vida com a certeza, com o definitivo, nunca conseguira seduzir-me. Falta de costume, possivelmente. De qualquer forma, sempre alimentei a superioridade da arte. Ultimamente, entretanto, tenho me perdido em contas. Quanto tempo passou desde que me deixou? Poesias malfeitas, umas dez. As horas que chorei, pelo menos cinco. Mas as horas que amei, querido, isso talvez nunca consiga deixar registrado em lugar algum.
Agarro com as mãos meus cachos pesados e castanhos. Sinto falta da abastança e logo me lembro que estão mais curtos. Resultado de um ato de impulsividade em uma daquelas madrugadas tão dramáticas quanto só o primeiro monólogo declamado por Tespis, em plena Dionisíaca, na Grécia Antiga. Saudades do cabelo pinicando os ombros. Na semana que se passara, esse nobre sentimento não era novidade alguma. A cabeça doía devido à fronte enrijecida. Sinônimo de pensamento a mil, eu diria. O papel em branco não seria de utilidade alguma, então optei por abandonar a escrivaninha velha de madeira e servir-me de mais uma xícara de café amargo.
Aceitar que seria mais uma noite martelando qual exatamente foi o clímax que desandou nosso romance foi tarefa fácil. Aliás, não diria romance. Muito mais ligeiro do que isso: um mero conto. Afinal, tudo não passara de uma obra ansiada arduamente, breve e repentina. A chuva causava um barulho incômodo. A temperatura marcada no termômetro não era, de fato, baixa. O verdadeiro frio era interior. Logo eu, você sabia, que não recebia o frio com tanta alegria quanto o sertão que padecia sob o calor, sofria com a nevasca que sua ida havia deixado. Doía, fazia ranger os dentes, sua partida sem a deixa de uma promessa de continuidade, de próximo capítulo. Ponto final. A gelidez tornava-me imóvel e petrificada. Lembra-se da nossa conversa sobre como demorava a chegada da seca nessa Brasília? Chegou, meu bem. Tão rápido quanto sua deixa.
Sempre me dissera que eu era ingênua. Eu acreditava, jogava a cabeça para trás e ria. Elogio é ser chamada de criança nesse mundo tão envelhecido, ora. Contei os milésimos para o devido momento em que meus olhos encontrariam novamente os seus. Meu corpo tremeu e a respiração levou alguns instantes a mais a fim de normalizar-se. O planejamento de cada passo em sua presença, escondeu-se em algum quarto escuro nessa mansão que chamamos de mente. Apagão. De repente, não havia concentração ou segurança. Somente o cheiro de seu perfume que misturava-se com o aroma de cigarro em sua camiseta.
Ah, aquela noite de domingo em que decidira dominar meu cotidiano. Havia acabado de chegar da missa com a minha mãe e o que predominava era a sensação de leveza. Depois daquilo, agonia constante. Sua intelectualidade, ou pelo menos tentativa dela, assustava-me. Meu coração, já machucado há um tempo, abrigava uma poesia que dizia que nada daria certo novamente. Apaixonar-me por poetas não era algo do qual me orgulhava. O último havia bagunçado não só a casa, mas o departamento responsável pela esperança, em meu espírito. Não é tarefa fácil recuperar-se de um domador de versos. De certa forma, todavia, seu ar blasé causava a impressão de que dessa vez não haveria desalento.
Na primeira vez que nossas mãos se tocaram, um choque percorreu meu corpo, abençoando-o com um calafrio. Tenho consciência de que o efeito para você não fora o mesmo. Meu excesso de estímulos, porém, mexeu com sua indiferença. O nervosismo acumulado, causado pela dor de um verdadeiro amor passageiro, fez com que minhas respostas tropeçassem e atravessassem ruas sem olhar para os lados. Algumas vezes, não havia nem mesmo dissoluções da minha parte, apenas risos forçados contraindo incessantemente as bochechas ardendo em vergonha. Não importava nossa diferença de idade ser um impedimento. Assumi a postura de vestir minha própria essência: a de menina, a de garota, de moça, após tanto tempo segurando o fôlego no ensaio de ser mulher.
A garrafa térmica esvazia-se e acaba por deixar-me só na noite de quarta-feira. Completamente sozinha seria exagero, a epifania de poetisa ainda transbordava os poros sentimentais. Não havia pavor algum do esquecimento. Quantas vezes já fora esquecida e quantas vezes já não esqueci por completo? Tempos de faxina, querendo ou não, são necessários até mesmo nos cômodos mais organizados. A poeira da qual tratamos me alergia, inebria e lacera. Por vezes, a maior das doenças é causada justamente por aquilo que parecia tão corriqueiro. Cartas apaixonadas e serenatas sob a varanda apertada não me faltariam nunca, meu anjo. Sabe melhor do que eu como funcionam bem as táticas do desajeitamento feminino. Seus olhos brilharam como a luz da estrela cadente que me fez desejar-te, quando entre construções velhas e julgamentos ultrapassados assistiram nosso beijo.  Que você me procuraria, nunca houve nem mesmo sombra de dúvida. Acontece que, para que exista pelo menos um vestígio do que pode ser sombra nas paredes da meditação, é necessário um mínimo lampejo de luz. E no nosso caso, a iluminação poderia ser chamada de medo.
Não me entenda mal. Seu carinho era irrecusável. Seu silêncio, mortífero. Gostava demasiadamente de seus fios grossos e pretos e dos cachos que se formavam perto da região occipital.  Cortavam-me a carne as horas sem uma resposta convincente derramada pela sua boca vermelha. Sua gargalhada irônica alvoraçava minha aposta no aperfeiçoamento da maturação. E o cigarro entre os dentes? Aquela falsa preocupação sobre se me importaria ou não? A fumaça depositada no canto direito de meu rosto e os avisos sobre os danos à saúde? Alucinavam-me. O jeito como tentava desesperadamente esconder a palpitação acelerada em seu coração, que escapava por aquela veia do pescoço, era o conto de fadas sonhado por tanto tempo. Acontece que eu não era mais princesa. Acontece que você não era ele.
Compreendo, é insanidade. Birra de criança teimosa que sabe o que quer.  Bisbilhotice a fim de conhecer o desconhecido almejado durante tanto tempo. Exatos dez meses desde que visitara o beco perigosíssimo do amor. Perdi-me nos olhos esmeralda dele e voltei sem coração. Confesso que, no momento, procurei por todos os lugares. Bolsos, sonhos, viagens, responsabilidades, poesias, bonecas de criança. Não estava em lugar algum. Mas com ele, em seu altar inalcançável, simplesmente por ser um deus com a cor do pecado. Meu eu-lírico sem nome assinado.
Orgulho disso é algo que jamais terei. Por quantos homens já não passei, por uma investida no que poderia remediar –ou talvez curar por completo- a falta do homem de sorriso diamante? É frustrante e desgastante a tentativa de recuperar-me. Ou pelo menos transformar em resultado de carbono um abraço que nunca existiu. Os beijos não me acordam como deveriam, o que é extremamente cômico: desde pequenos, não fomos ensinados que somente um beijo seria capaz de quebrar maldições? E se, por um acaso, a maldição for o amor inatingível que muitas vezes decidiu ser derrotado?
Talvez devessem trancar-me em uma torre alta, longe de emoções e reviravoltas sobre aquilo que, erroneamente, ilude ser a última chance. Nunca é. Costumam dizer que homens nunca são verdadeiros com a face à mostra. Dê a eles uma máscara e talvez falem a verdade. No entanto, feras continuam voltando, fantasiadas. A única marca que deixam em minha vida, porém, é a de cicatrizes ou arranhões do que passou tão perto do sentimento de realeza. Cubro-me com sua manta cor de vinho deixada em meu armário e volto a pensar: seria a vida essa grande prisão cercada de dragões raivosos por terem um dia se enganado, ou a verdadeira condenação é estarmos todos fadados a acreditar piamente em histórias inventadas para tornar a vida suportável?
O sono amortece-me, deixando um último pensamento às horas bem-vindas da manhã. Perdão ao dançarino, aos poetas de carne e osso e aos de corpo e alma, ao matemático e até ao mesmo viajante desbravador. Dediquei-me até o último passo de cada, dado em direções opostas, a alinhar-me nesse falso amor. Sentimentos de araque, todavia, não me têm utilidade alguma. Puxo a toalha da mesa e quebro copos em atitudes incalculáveis. Digo “nunca” ao que poderia ter sido confortável. Uma pena que o confortável jamais me aliviou as tensões nos ombros ou olheiras causadas por cachoeiras de lágrimas salgadas. Sou leoa, comodidade é questão de dor. Aconchego é como corte de navalha no peito do ser amado. Amo o impossível e almejado.
Sou poetisa.
Uma pena
que aquilo
que me mova
seja a loucura.
Uma lástima,
bebida desperdiçada,
que vocês
não sejam ele.
Rimas
bastam-me.
A arte nunca me levara a lugar algum,
talvez vazio, no fim do túnel
escuro no fim do poço.
A maldição
da princesa sem dom
para amar,
é coroar-se rainha de si mesma:
matar tudo aquilo
de que possa 
gostar.

Isadora Egler