Durante todo nem tão santo dia,
carreguei o fardo de ter como identidade
a própria opressão.
A afinidade com o oposto
sempre foi motivo
para enorme fragilidade:
sexualidade
como jarro de vidro,
resultado:
reclusão.
A vida feriu-me de tal maneira
que ainda pergunto-me
se o próprio paraíso
será digno de perdão.
Sofri a dor da carne,
do dilacerar,
do julgar,
do medo tão presente
de não mais
escolher a quem amar.
Ora essa,
vivem dizendo-me
que o bem deve ser feito
sem olhar a quem.
Hipócritas!
Tudo o que tem acontecido
é o preconceito
de pensamentos extintos
e o enxergar
banhado de desdém.
Há uma sina como chama,
a qual dentro de mim,
insiste em incendiar.
Abandonado sob a luz da promessa de um céu,
odeio-me
mais do que qualquer um
possa odiar.
Deveria me envergonhar.
Deveria
Me
Envergonhar.
Virar homem,
macho alfa,
ao exército
me alistar,
“Isso tudo é doença,
É fase,
Vai passar”.
A liberdade,
abdicar.
Afinal de contas,
não mais existe
aquilo
pelo o que marchar:
a opção virou desrespeito,
a família
devemos salvar.
Arrastem-me do mundo,
que como máquina em fábrica abandonada,
o afeto, em ódio,
decide transformar.
Razão para os olhos abrir
não há.
Calado,
durmo só mais essa noite,
com passagem comprada
para o mundo belo
em que igualdade
não seja
somente
questão de privilégio.
(Isadora Egler)
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