quarta-feira, 9 de julho de 2014

Durante todo nem tão santo dia, carreguei o fardo de ter como identidade a própria opressão. A afinidade com o oposto sempre foi motivo para enorme fragilidade: sexualidade como jarro de vidro, resultado: reclusão. A vida feriu-me de tal maneira que ainda pergunto-me se o próprio paraíso será digno de perdão. Sofri a dor da carne, do dilacerar, do julgar, do medo tão presente de não mais escolher a quem amar. Ora essa, vivem dizendo-me que o bem deve ser feito sem olhar a quem. Hipócritas! Tudo o que tem acontecido é o preconceito de pensamentos extintos e o enxergar banhado de desdém. Há uma sina como chama, a qual dentro de mim, insiste em incendiar. Abandonado sob a luz da promessa de um céu, odeio-me mais do que qualquer um possa odiar. Deveria me envergonhar. Deveria Me Envergonhar. Virar homem, macho alfa, ao exército me alistar, “Isso tudo é doença, É fase, Vai passar”. A liberdade, abdicar. Afinal de contas, não mais existe aquilo pelo o que marchar: a opção virou desrespeito, a família devemos salvar. Arrastem-me do mundo, que como máquina em fábrica abandonada, o afeto, em ódio, decide transformar. Razão para os olhos abrir não há. Calado, durmo só mais essa noite, com passagem comprada para o mundo belo em que igualdade não seja somente questão de privilégio.
(Isadora Egler)

Nenhum comentário: