“Seus olhos cor daquilo que chamaria de poesia, sua boca entreaberta que denota uma falta de atenção que deveria ser tão minha, aquele charme imbatível guardado apenas para instantes que ameaçam dor, a vontade egoísta de fazer com que o mundo vire um lar para todos ao redor lembram-me o protagonista. A diferença, meu bem, é que isso aqui não é uma história de amor.
Bem, pelo menos nunca ouvi, até o
dado instante, falar de nenhuma história de amor de um lado só. Digo isso
baseada no meu vasto conhecimento adquirido após horas em busca do verso perfeito
que nos traduzisse. Peraí. Nós?
Passei muito tempo pensando que
poderia ser a primeira, então, a colocar em palavras aquilo que somos, já que
com muita luta decidi que seríamos plural. Tempo esse, desperdiçado, talvez. Tantos
textos com a mesma frase velha e decorada na cabeça de admiradores que diz que “não
fomos, são somos e não seremos”, e caio no mesmíssima armadilha de tentar dar
uma faxina em meu cérebro tão desorganizado e cheio de você. Armadilha de
buscar uma nova rima. Ideal, concisa e absoluta. Que seja anunciação e
apresentação a todos da estrela mais brilhante no céu que somos eu e você. Do nosso infinito. Negativo, entre números
grotescos e amaldiçoados. Mas, no mínimo, nosso.
A fraqueza às vezes se esconde em
um gesto forte que somente o soldado pode ver. A falta tão sentida de choro em
meio à comoção é somente aceitável. Simplesmente porque ninguém no mundo sabe a
causa das cicatrizes que ensinam tanto sobre a dor. Ninguém no mundo calcula o
peso que se carrega na alma de tantos quilômetros percorridos de tanta
provação. As vezes que desamei, conto nos dedos. Mas as vezes que amei, não
conto a ninguém.
Não seria justo, de forma alguma,
comparar a dor física de quem sofre dias e noites nesse abismo entre a vida e a
morte com o martírio que é sentir. Mesmo assim, dentre o caos que me
sobrecarrega, proveniente das alterações “um dia lua, outro dia sol” daquele
que me gerou, a falta de vista e reconforto daqueles com quem (sobre)vivo todos
os dias, o drama já tão incluso na alma de poetisa e o ensinamentos medievais
de que amar exacerbadamente é errado, estabeleço essa relação. Porque, talvez,
a única forma física e emocional de sentimento seja a dor.
Sei que é preciso paciência para
me ler. Aprendi a guardar as coisas no coração, pois a inveja diluída nos poços
de amor espalhados pelo mundo inteiro, faria com que passarinhos sussurrassem no
ouvido do destino, tão sacana, que meu amor é inteiramente seu. É por isso,
caro você que perde seu tempo com essa prosa banal que roda em torno do mesmo
ponto, que seguirei a partir daqui, com as mais lindas neologias e
subjetividade que o nome de meu querido traz, sem remorso algum.
Bastou viver uma noite suportando
seu amor, que meu coração nunca mais amanheceu. Consta por aí que “o amor é
apenas um grito no vácuo, e que o esquecimento é inevitável, e que estamos todos
condenados ao fim”. E é por isso que procuro ao máximo eternizar o que sinto em
forma de poesias, textos, artes, danças, rituais, cantos e expressões. Porque o
amor verdadeiro priva de palavras sonoras e reais, certo? Porque o
esquecimento, na verdade, é apenas uma ilusão. Não existe pelo simples fato de
que sua alma nunca saberá o altar que carreguei comigo por ti. Não há imagem
para ser apagada. Porque o fim é a condenação de quem, na verdade, nunca teve
coragem de dar em sua direção o primeiro passo e começar algo.
Permaneço nesse estado quieto,
choroso, sem muitas palavras ou cortejos devido ao fato de que meu espirito
reconhece que enquanto se acaba de rir, gratuitamente, bebo para não chorar e
pago caro. Queima meu ser, como um demônio ao pôr os pés em altar sacro, saber
que se por acaso passar por alguma doença (de espírito ou carne), não terá
ninguém para segurar-lhe as mãos como eu o faria. Ter noção de que amanhã pode
não haver de ser outro dia para ti, sem saber dos enormes sacrifícios que eu
seria conscientemente capaz de fazer, é assassino. “Por favor” não sai de minha
mente. A promessa de que tudo vai dar pé existe, não? A amargura aparente é apenas excesso de arte (seu
sorriso é matéria de poesia) que, apesar de nunca ter me levado aonde queria,
tornou meu coração silencioso. Um lugar no mínimo habitável. Afinal de contas,
ainda tenho no fundo do poço, como colherada de esperança, o reconfortante fato
de que “Não dá para escolher se você vai ou não vai se ferir neste mundo, mas é
possível escolher quem vai feri-lo”. E nesse caso, meu bem, repetiria
livremente, quantas vezes fossem necessárias, a minha mais linda escolha que se
chama seu nome.”
Isadora Egler
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