sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

"E a fome era tão grande
Que devorou meu coração.

Me causou tontura, fraqueza
Quando você chegou faminto,
sem nenhuma permissão.

Alimentou meu amor,
E foi embora,
deixando apenas essa interminável confusão
E algumas migalhas do que
Outrora
Fora tão bom."
Isadora Egler

"Só escreveria a você
Se me amarrassem
Sob pena de morte.

Meu orgulho não deixa.

Mas como eu não poderia
Escrever a você
se a minha única condição de vida
É te querer?"
Isadora Egler
"Vocês não pensam
Não mordem
Não calam
Não reagem
Não gritam
Não batem
de frente
com o descontente.

Não cantam
Não comem
Não dançam
Não observam
Não ficam perto
de quem pede
para ficar.

Não são
Não foram
Não serão.

Porque não falam
Não sentem
Com o coração,
Mas sentam
e esperam cor e ação
Daqueles que não fazem nada também
E se acham sãos
Para sonhar
Ouvindo o som daquela nossa canção
tocar."
Isadora Egler

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014


"A seta
acerta
em cheio
meu coração

Pontos
ângulos
tangentes
e planos

Acarretam em
retas paralelas
que em breve
se cruzarão."
Isadora Egler

 "A morte seria melhor. Seria uma bênção comparada ao inferno que você me submetia todos os dias. Ou talvez não. Em anos que se arrastaram como séculos até hoje, ainda não consegui me decidir se o que você me causava era como um paraíso ou um sacrifício.
 Eu te amei. Te amei com a mais verdadeira das minhas mil caras. Te amo, aliás. Você acabou com meu show, arrancou minha máscara, puxou as toalhas e ateou fogo. E mesmo assim, eu amei por nós dois. Como quem assiste a uma chuva na janela depois de uma temporada inteira de seca e não pode se molhar. Mas nesse caso, a chuva era uma verdadeira tempestade. E dentro do meu coração.
 Você foi embora tão cedo, meu bem. Mal me deixou memórias. Só o seu cheiro doce que foge da minha lembrança como o desenho do seu sorriso. Sinto-me nauseada de vez em quando, nas vezes em que tento achar uma resposta para a minha atração pelo sofrimento. Viver sem você é como ter que escolher entre a síndrome do sono e um pesadelo real. E ultimamente, eu tenho tido olheiras por passar tanto tempo acordada depois de uma noite maldormida.
 Eu continuo sendo sua.
 Eu guardei seus sorrisos e seus choros. Seu perfume. Sua blusa de lã. Guardei suas dores e incompreensões enquanto você nem pensava em voltar pra casa. Eu posso mentir, roubar vidas, destruir sonhos e construir edifícios de mentiras, mas do que me adiantaria? Nada disso te traz de volta.
 Eu sempre fui de amar a solidão, de colecionar potes vazios sem nenhuma razão. Mas eu não gosto desses calafrios que a sua falta me proporciona. E eu tentei fugir sabe. Tentei mesmo. É como se eu estivesse presa em uma estufa com a chave na mão, mas cansada o suficiente para me arrastar até a porta.
 Cheguei ao ponto de desejar avalanches de miséria sobre quem tentasse cruzar o seu caminho. Me corroí por dentro. Por você. Entretanto, percebi: as pessoas não são más, são doentes. E a doença nos leva a fazer maldades. Depois de tanto tempo, ainda tento me convencer de que você não sabe ser melhor. De que é a minha doença. E eu não sei me enjoar de você."
Isadora Egler

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014


 "Ela tinha medo vez ou outra, como todo mundo tem quando a vida parece pesar. Tinha pavor daquilo que o futuro lhe reservava. E era por isso que quando ele percebia a falta de um sorriso que iluminava o rosto dela, como nem o mais caro dos diamantes seria capaz, se obrigava a guardar todo o orgulho e egoísmo em uma caixinha para tornar seus braços um lar em que ela se sentisse segura. E o contrário não poderia ser diferente: ele se sentia miserável às vezes. Sentia-se medíocre, como se o mundo fosse uma maratona e ele não estivesse preparado o suficiente. Mas afinal, nunca estamos. Ela o enchia com a excelência do seu amor que insistia em ser tão dele e muitas vezes falava palavras confusas. Mas para ele, elas faziam tanto sentido quanto 1+1 é igual a dois. E foi. E assim, continuavam no caminho certo, que mais na frente, perceberiam: levava ao amor.
 A vida inteira dela fora confusa: sentia demais, se entregava demais, caía demais, e o pior: continuava acreditando que dentre tanta gente cheia de nada, haveria de ter alguém com coragem o suficiente para responder ao chamado da entrega. A vida inteira dele fora cercada de superficialidade e de um cansaço que não parecia ter fim. Como um mar agitado que lutava contra a calmaria de ser o que se é, e ventos que sopravam em todas as direções.
 E então eles se esbarraram.
 Perceberam, depois de um livro inteiro de desencontros, que era pra ser. O lado amargo dele dava certo com o doce dela. Dava certo de um jeito que ninguém poderia imaginar. Como quem tenta definir o que é o amor. E o amor é um sentimento tão nobre que não se permite rótulos, só se faz presente.
 Havia amor quando ela pensava que poderia mudá-lo, e ele, que ela o aceitaria do jeito que fosse. E acabaram transformando um ao outro. Havia amor quando ela o dizia que não gostava de alardes e quando ele decorava a risada dela quando estava nervosa. Quando tudo o que ele queria era um beijo, e ela, perder o medo. Quando suas mãos cabiam perfeitamente e completavam o vão das mãos dele e ela sorria, sorria o sorriso de quem é quieta a vida inteira e, de repente, explode em sentimentos. Havia amor quando eles deixavam com que o mesmo filme rodasse repetidas e repetidas vezes, mesmo que nenhum dos dois prestasse atenção. Só pelo simples prazer de estarem juntos. Havia amor quando o mau-humor matutino dela se tornava cada dia mais familiar. Quando ela se sujava e ele ria, fazendo com que ela perdesse a paciência dizendo que não tinha graça. Mesmo que por dentro se segurasse para não cair na gargalhada. Havia amor quando o cafuné dela se tornava insubstituível, e quando o tom de voz dele se tornava música.
 Havia amor nas pequenas coisas do dia-a-dia. Como o olhar que ele só tinha pra ela, e o humor dele que só ela entendia. Havia amor até mesmo quando faltava amor e eles subornavam o tempo, para que as estações passassem mais rápido e a primavera chegasse logo. Havia amor quando alguém dizia a um dos dois que nada daria certo, e eles abaixavam a cabeça e soltavam um risinho de canto, porque no fundo, sabiam: aquilo que sentiam ia além de qualquer padrão. Porque eles não se importavam com certo e errado. Viviam e a cada dia que se passava venciam o veneno do mundo e as montanhas cercadas de desafios. E nisso, havia amor."
Isadora Egler

domingo, 23 de fevereiro de 2014



"Te olhando assim, meio de perfil, percebi que até que você fica bonito quando tenta parecer sério. De verdade. Enquanto sua boca abre e fecha pra falar um monte de coisa que some da minha mente em uma fração de segundos, eu ocupo a minha imaginação com a ideia de algum dia você me dizendo sim e renunciando a toda essa estupidez que os outros costumam chamar de 'realidade'.
 Engraçado, a ideia geral de 'loucura' condiz com a nossa ideia de 'liberdade'. Somos lúcidos na nossa insanidade. A minha vida inteira foi um show de 'ser ou não ser', de 'seja isso ou aquilo', 'x ou y', 'tudo ou nada'. E de repente eu encontrei você.
 Você destrói facilmente essas árvores de dúvidas que crescem no meu pensamento quando eu penso em padrão. Acaba com meus paradigmas sobre a vida em sociedade. Acalma todos os meus impulsos que clamam por excelência. É simples te querer. Você justifica a minha existência. E eu que sempre pensei que fosse como ser atingido por um raio a chance de encontrar alguém que curasse os meus dilemas, te achei no momento em que te vi encostado em um canto com um sorriso que brotava no seu rosto.
 Você entende que entender a vida é uma limitação. E isso basta. A alma de um louco fareja à de outro a quilômetros de distância, e eu farejei a sua. Não só farejei, como entrei nela, passei um café e puxei uma cadeira. Fiz dela, o meu abrigo.
 Você quebra as regras da normalidade e grita com todas letras que é bonito ser diferente. É fácil amar alguém pelo seu 'ter' e 'parecer'. Mas raro e difícil, pelo seu 'ser'. Como dito em Alice no País das Maravilhas, 'Sim, você é louco, louquinho. Mas vou lhe contar um segredo: as melhores pessoas são assim.'
 Por isso, meu amor, nunca diga não à insanidade de se ser o que é. Em vez disso, ligue pra mim. Me chame pra tomar um banho de chuva e rir do cotidiano alheio. Me leve a um degrau acima da nossa maluquice. Berre alto comigo e deixe com que os outros olhem. Acorde ao meu lado e saia de pijamas pela cidade que insiste  em ser tão monótona. Dance uma valsa comigo e na primeira oportunidade diga que me ama. No final de tudo, me dê um beijo. Só não me deixe, querido, por favor apagar a chama da loucura que faz arder o fogo que chamamos de demência."
Isadora Pires Egler
"Por que partir, 
 Amor?
 Se a noite ainda é pequena,
 Sob os cuidados de um outro alguém
 Vai conhecer  os carinhos da pureza infantil.
 Os doces e perigos da juventude,
 Viver riscos, colher paixões
 Subir em pés de desilusão
 Sentir o auge da idade adulta
 E sofrer uma queda de mil metros quando a velhice chegar
 E você se despedir com um beijo
 Para dizer que morreu de amor."
 "Era disso que eu precisava. Da capacidade de sentir tão exacerbadamente que a nomenclatura 'sentimento' não seria capaz de expressar. Um desejo louco de preencher a alma. Eu já estava cheia de gente tentando me inundar com vazios.
 Mas não com o efeito que você me causava. Que me fazia suar frio e implorar por calma e insensibilidade. Me deixava ofegante e exausta, como se nem todos os segundos das horas de um ano fossem capazes de recuperar o tempo que eu perdi sem você. O que você causava era além da vida: era uma vontade de querer não querer tão insana que quase me fazia internar-me em um manicômio.
 Observar seus lábios se mexendo enquanto falava qualquer coisa me fazia querer sair de mim mesma e navegar no corpo de outra pessoa que não se importasse. Era apavorante não te ter. Era apavorante a ideia de que qualquer outra pudesse morar na sua mente. Você falava sobre ela de um jeito que me fazia desejar do fundo do meu ser ter cabelos cor de abóbora e me tornar pequena o suficiente para caber nos seus braços. Com que direito você pensou que pudesse brincar comigo desse jeito?
 Já vou te avisando, não se brinca com fogo. Muito menos com fogo que arde depois de tanto sofrer. Um aviso pra que você não se queime: você pode ficar perto o suficiente para se aquecer, mas nunca perto demais, ou pode acaber em chamas. Algumas pessoas são assim, e é inevitável não dizer que eu nunca gostei de que brincassem com meus demônios."
Isadora Egler


"Agradeço o vazio que você deixou.
 Todos os dias de manhã,
 Transformo a minha dor em aspas.
 Esquento saudade
 E me sirvo de poesia."
Isadora Egler


"Cidades interioranas,
 Interior do meu coração.
 A única diferença,
 Seria uma contradição:

 Dizer que enquanto as primeiras
 Têm perfil tão calmo,
 Eu carrego em meu peito
 Uma imensidão."
Isadora Egler


"Olhando a lua minguante, aquela que parece o sorriso que dou quando me lembro das suas mãos brincando com as minhas, percebi uma coisa: a lua me intriga.
 Às vezes parece que demora tanto tempo pra aparecer uma lua daquelas de fazer a gente parar o que estivesse fazendo e desviar do caminho que estivesse seguindo só pra poder olhar... E aí, puf! Conquista a atenção de todo mundo e some quando a gente dorme com um turbilhão de coisas na cabeça e acorda pensando em você.
 E eu falo de um ciclo, não de amor. Nos prende a atenção por uma fração de segundos para depois se tornar lembrança e sumir. Não entendo. Mas sempre volta pra lembrar que vazio nenhum é permanente.
 Falo da natureza, sempre imitando os dramas da nossa vida. Vai ver a lua vem e vai pra gente não enjoar daquilo que é bonito. Mas é isso que me apavora, a covardia de cativar e depois ir embora como folhas levadas pelo vento e pensamentos levados pelo tempo.
 Ah, natureza... sempre mascarando a sua grandiosidade com a arte de causar buracos no coração. Vai ver ela aprendeu depois de tanto tempo que passamos aqui olhando o céu. Já ouviu falar em estesia?"
Isadora Egler

"Gente que me pede calma me causa cólera. Gente que insiste em ser tão vazia e me diz que não vale à pena arder por alguém. Pra essa gente, eu encho o peito e aponto dedos: o sofrimento me acalma. Simples, a dor te faz lembrar que a alma vive.
  Enquanto luto pela intensidade das coisas, ouço estalares de dedos que deixam ir. Esses sim me apavoram. Gente covarde. Entre uma história de desilusões, a humanidade diz que mantêm o pé no chão e perde aquilo que lhe é mais característico: a capacidade de sentir.
 Por isso, não me ensine a arte da conformidade. Me afogue e me faça desesperar pela salvação e por um herói, mesmo que minha respiração se acabe. Mas não afogue o meu coração em um mar de insensibilidade. Porque eu não me conformaria. Me amem, ou me matem de amor."
Isadora Egler

"Se as aparências enganam,
 seria o amor uma ilusão de ótica?"



"Você não tinha alvará, permissão
 Mas entrou como quem não quer nada...
 Invasão.

 Como sem teto, desabrigado
 Fingiu que assinara todos os contratos
 E, assim, fez morada no meu coração.
 Desde então, eu tô me arrastando nessa encruzilhada que chamam de sonhos...
 É incômodo perceber, meu bem,
 Que eu irradio felicidade sem você?
 
 Se sim, me deixa ir...
 Se não,
 Me perdoa por essa confusão
 E me deixa partir."
Isadora Egler

"Exploro fósseis de um antigo amor,
 encontro rachaduras e escritas abandonadas...
 Entre guerras e batalhas,
 Te conto a história do meu coração."
Isadora Egler

"O antônimo do vazio
 É o cheio.
 Mas e o antônimo da metade,
 Seria o inteiro?
 Não,
 O antônimo da metade
 É o coração
 Da outra metade que anda por aí

 Tentando se encontrar,
 Tentando ser metade do inteiro que se precisa
 Para um só ser amar."

Isadora Egler