terça-feira, 25 de fevereiro de 2014


 "Ela tinha medo vez ou outra, como todo mundo tem quando a vida parece pesar. Tinha pavor daquilo que o futuro lhe reservava. E era por isso que quando ele percebia a falta de um sorriso que iluminava o rosto dela, como nem o mais caro dos diamantes seria capaz, se obrigava a guardar todo o orgulho e egoísmo em uma caixinha para tornar seus braços um lar em que ela se sentisse segura. E o contrário não poderia ser diferente: ele se sentia miserável às vezes. Sentia-se medíocre, como se o mundo fosse uma maratona e ele não estivesse preparado o suficiente. Mas afinal, nunca estamos. Ela o enchia com a excelência do seu amor que insistia em ser tão dele e muitas vezes falava palavras confusas. Mas para ele, elas faziam tanto sentido quanto 1+1 é igual a dois. E foi. E assim, continuavam no caminho certo, que mais na frente, perceberiam: levava ao amor.
 A vida inteira dela fora confusa: sentia demais, se entregava demais, caía demais, e o pior: continuava acreditando que dentre tanta gente cheia de nada, haveria de ter alguém com coragem o suficiente para responder ao chamado da entrega. A vida inteira dele fora cercada de superficialidade e de um cansaço que não parecia ter fim. Como um mar agitado que lutava contra a calmaria de ser o que se é, e ventos que sopravam em todas as direções.
 E então eles se esbarraram.
 Perceberam, depois de um livro inteiro de desencontros, que era pra ser. O lado amargo dele dava certo com o doce dela. Dava certo de um jeito que ninguém poderia imaginar. Como quem tenta definir o que é o amor. E o amor é um sentimento tão nobre que não se permite rótulos, só se faz presente.
 Havia amor quando ela pensava que poderia mudá-lo, e ele, que ela o aceitaria do jeito que fosse. E acabaram transformando um ao outro. Havia amor quando ela o dizia que não gostava de alardes e quando ele decorava a risada dela quando estava nervosa. Quando tudo o que ele queria era um beijo, e ela, perder o medo. Quando suas mãos cabiam perfeitamente e completavam o vão das mãos dele e ela sorria, sorria o sorriso de quem é quieta a vida inteira e, de repente, explode em sentimentos. Havia amor quando eles deixavam com que o mesmo filme rodasse repetidas e repetidas vezes, mesmo que nenhum dos dois prestasse atenção. Só pelo simples prazer de estarem juntos. Havia amor quando o mau-humor matutino dela se tornava cada dia mais familiar. Quando ela se sujava e ele ria, fazendo com que ela perdesse a paciência dizendo que não tinha graça. Mesmo que por dentro se segurasse para não cair na gargalhada. Havia amor quando o cafuné dela se tornava insubstituível, e quando o tom de voz dele se tornava música.
 Havia amor nas pequenas coisas do dia-a-dia. Como o olhar que ele só tinha pra ela, e o humor dele que só ela entendia. Havia amor até mesmo quando faltava amor e eles subornavam o tempo, para que as estações passassem mais rápido e a primavera chegasse logo. Havia amor quando alguém dizia a um dos dois que nada daria certo, e eles abaixavam a cabeça e soltavam um risinho de canto, porque no fundo, sabiam: aquilo que sentiam ia além de qualquer padrão. Porque eles não se importavam com certo e errado. Viviam e a cada dia que se passava venciam o veneno do mundo e as montanhas cercadas de desafios. E nisso, havia amor."
Isadora Egler

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