quarta-feira, 16 de julho de 2014

Só,
na tarde de domingo,
o
obstinado
abandonou.
Deixou-me,
com dores no colo,
prestes a um exemplar de agonia,
parto de risco:
dor.
Levou embora a reserva,
as economias,
tudo aquilo
que denotava
poesia.
O telefone tocava
e tudo o que ouvia
era a mudança,
voz alterada:
-Sinto muito, senhorita.
(Senhorita?)
O foragido que procuras
nada mais é
do que um péssimo ator.
Além de roubar,
tudo o que tinhas,
ao teu lado,
simulou amor.
Ora,
mas se o grande poeta
não passava
de um guerrilheiro
belicista,
como
me explica
os olhos
de artista?
Ou melhor:
se não passava
de um grande vilão,
como
desvenda
o fato
de ainda bater,
em meu peito,
um pulsante coração?
-Ah,
veja bem,
confiou na tentação.
Esqueceu os textos,
apelou pra sedução:
a imagem
do plebeu
ia do improviso
às loucuras por paixão.
Pudera!
O trovador,
então,
não chamemos de vilão!
Mas de verdadeiro comediante,
humorista
de esquina,
quinta
categoria.
A peça sobre desleixo,
nada mais era
do que embuste e armação!
As cortinas se fecham,
risos contidos
sobre a tentativa
de desesperança.
Nessa dança,
impostor,
sabe muito bem
da especialização
em não-amor.
Não entendeu
exatamente
como expressar
a essência
do chão duro.
Na verdade,
farsante,
o problema
é ter crido
piamente
naquilo
que é seguro.
Leve,
como nunca antes!
Abortei
a possibilidade
de um futuro.
Métrica mascarada,
no entanto,
não engana
apreciadores de sentimento:
a lição
da fábula malfeita
é orgulho ferido
que seu nome
consome,
afinal,
já dizia o velho
“É fácil ser poeta e
tão difícil
ser homem”.

 Isadora Egler

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