quarta-feira, 9 de julho de 2014

Vagabundo, sem vergonha. Roubou o dinheiro pra financiar a maconha. É um marginal, dizem. Malandro! Um mal educado, só não se esqueçam que a educação não veio do Estado. Faminto, desletrado, nem o nome sabia escrever. Nem mesmo imaginara que esse, tantas vezes, aparecera na tevê. A fome batia, Francisco corria pra praça a fim de abocanhar a próxima vítima. Não entendia, mas lá, sempre ouvia falar desses tais de elitistas. Aristocratas, incomodados com a presença de vira latas, ignoravam seu próprio existir! Nem identidade queriam pedir. "Ei, burguês babaca! Sua mãe tem pedigree?" Ora, que covardia! Todos sabemos da opressão que sofre essa classe branca noite e dia! Não é de rir? Consideram-se como nós! Injustiçados pela alegria. Anseiam o poder da fala, mas não desejam os anos de escravidão. Francisco podia ser preso, perigoso, apanhado. Seu sol, a partir de agora, tem permissão para nascer quadrado. Só pedia, coração, “que a lua para todos nós também nasça redonda”, afinal, cantamos felicidade, e sobretudo, pagamos a conta.
(Isadora Egler)

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