sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Oportunidade. Cantar para si mesmo na tentativa de espreguiçar o que amaldiçoou. O dia nascia e o céu chorava como uma criança desgarrada do peito da mãe. Por que tudo havia de parecer insensato?

Vivíamos em um cerrado constante sem estações definidas. A seca real era a do sentimento: há tempos não sentíamos o toque das gotas no coração. Épocas de má colheita. "Amanhã vai ser outro dia". Repito e apoio-me no sobreviver das superficialidades. Como se o cotidiano não tivesse problemas. Apesar de você.

Poderia alimentar-me de seus silêncios. Preferi, no entanto, servir-me de poesia. Ando de lado, por entre as ruas dessa cidade geométrica. Temo esbarrar em seus olhos abstratos. Liberdade. A semana começava e tudo era igual. Imaginava o porquê das fases, o porquê do ser humano ter sido, desde o princípio, fissurado por divisões e seus reinventos.

O novo início não fazia com que voltássemos ao ponto. A verdade é que, apesar do tempo que mascara a reconciliação, a ferida do que poderia ter sido não cicatriza jamais. A gente vai vivendo. Crendo na arte vendida e no sorriso amarelo. No manifesto e na mudança. Na ação e reação. Na existência do amor. Carregamos o peso do lixo sentimental e as sobras da paixão. Fingimos. Só queríamos acreditar. Queríamos que funcionasse. Queríamos querer. Logo nós, apaixonados por recomeços, só queríamos que a segunda-feira acabasse logo.

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