domingo, 11 de maio de 2014

"É, eu que jurei que não falaria mais de amor. Que afirmei de pés juntos substituir o gosto do seu nome e como ele costumava soar bem perto do meu, por doses de saudade. Eu que fiz a promessa de vender em um brechó todas as lágrimas já derramadas, para que pudesse comprar um óculos novo, sair por aí e enxergar o quanto podem ser bonitas essas manhãs sem ti, pergunto-me nesse instante porque meus pés continuam me arrastando para lugares que deveriam ser tão nossos. Deveriam.
Corre em minha mente a imagem dos seus olhos tão marcados pela dor de estar sozinho, observando aquele relógio velho pendurado na parede do seu quarto cujos ponteiros marcam 20:39. Horinha boa essa. Horinha boa pra deitar no seu colo e repetir, como todas as vezes, o quanto a sua alma se encaixou com a minha quando, despretensiosamente, nos encontramos naquela quinta feira de maio. Horinha boa pra rir da sua cara de bobo enrolando os dedos nos cachos despenteados que caem sobre meu rosto. Horinha boa pra perceber o quanto precisou dar errado com todos os outros que insistiram em ser copos pela metade, para que finalmente pudesse encontrar uma outra chaleira fervente que transbordasse sentimentos. Horinha boa pra, mais uma vez, você, tão reparador em olhares e sorrisos, notar o quanto meu espírito se transforma na luz de todas as estrelas cadentes juntas, quando ao seu lado. Horinha boa pra qualquer coisa junto ao seu coração, menos pra me pegar, entre tantas viagens, lembrando de como foi tão fácil para ti sair por aquela porta, quando minha única vontade era a de que fôssemos parágrafos longos e inacabáveis.
Saudades de todos os beijos que ainda seriam, enquanto nosso riso se confundiria por um dia termos afirmado que o pra sempre era terra dos nossos sonhos. A rotina, meu bem, costumava ser essencialmente sincrônica. E, agora, encontro-me sentada acompanhada de todos os demônios que há tanto tempo não se faziam presentes. Asseguro-te que reformaria todas ruas em que seus pés tocassem, se me assegurasse uma vida conjunta. Você, entretanto, decidiu escolher a estrada do exílio.
Lembrando-me de como era sentir todas as noites a sua respiração abafada e aquele tom de voz que se forçava a esconder os pesares, certifiquei-me de que não haveria momento algum em que alcançaria os seus passos nesse caminho da poesia. Assumo a culpa por ter te colocado em tantas das minhas expectativas cotidianas. Por ter te amado do jeito doentio, na tentativa de te contaminar. Por ter escrito, incontáveis vezes, o horizonte na palma da minha mão e por ter sonhado versos exageradamente clichês e repetitivos como esses, a fim de te arrastar para longe dessa inércia. 

Como poderia desejar que não encontrasse donzela alguma dentre tantas das suas batalhas? Nunca bateria em minha porta, apesar da dor de ver quem se ama partir, a ideia do seu isolamento infindável. Perdoa-me pela insanidade de quem se entrega. Propaguei sensibilidade demais. Fui louca. Por ti. Na tentativa ingênua de tornar-me semente para que você me regasse, protegesse e transformasse na flor mais linda do seu oásis."
Isadora Egler

Nenhum comentário: