"É, eu que jurei que não falaria mais de
amor. Que afirmei de pés juntos substituir o gosto do seu nome e como ele
costumava soar bem perto do meu, por doses de saudade. Eu que fiz a promessa de
vender em um brechó todas as lágrimas já derramadas, para que pudesse comprar
um óculos novo, sair por aí e enxergar o quanto podem ser bonitas essas manhãs
sem ti, pergunto-me nesse instante porque meus pés continuam me arrastando para
lugares que deveriam ser tão nossos. Deveriam.
Corre em minha mente a imagem dos seus
olhos tão marcados pela dor de estar sozinho, observando aquele relógio velho
pendurado na parede do seu quarto cujos ponteiros marcam 20:39. Horinha boa
essa. Horinha boa pra deitar no seu colo e repetir, como todas as vezes, o
quanto a sua alma se encaixou com a minha quando, despretensiosamente, nos
encontramos naquela quinta feira de maio. Horinha boa pra rir da sua cara de
bobo enrolando os dedos nos cachos despenteados que caem sobre meu rosto.
Horinha boa pra perceber o quanto precisou dar errado com todos os outros que
insistiram em ser copos pela metade, para que finalmente pudesse encontrar uma
outra chaleira fervente que transbordasse sentimentos. Horinha boa pra, mais
uma vez, você, tão reparador em olhares e sorrisos, notar o quanto meu espírito
se transforma na luz de todas as estrelas cadentes juntas, quando ao seu lado.
Horinha boa pra qualquer coisa junto ao seu coração, menos pra me pegar, entre
tantas viagens, lembrando de como foi tão fácil para ti sair por aquela porta,
quando minha única vontade era a de que fôssemos parágrafos longos e
inacabáveis.
Saudades de todos os beijos que ainda
seriam, enquanto nosso riso se confundiria por um dia termos afirmado que o pra
sempre era terra dos nossos sonhos. A rotina, meu bem, costumava ser
essencialmente sincrônica. E, agora, encontro-me sentada acompanhada de todos
os demônios que há tanto tempo não se faziam presentes. Asseguro-te que
reformaria todas ruas em que seus pés tocassem, se me assegurasse uma vida
conjunta. Você, entretanto, decidiu escolher a estrada do exílio.
Lembrando-me de como era sentir todas as noites
a sua respiração abafada e aquele tom de voz que se forçava a esconder os
pesares, certifiquei-me de que não haveria momento algum em que alcançaria os
seus passos nesse caminho da poesia. Assumo a culpa por ter te colocado em
tantas das minhas expectativas cotidianas. Por ter te amado do jeito doentio,
na tentativa de te contaminar. Por ter escrito, incontáveis vezes, o horizonte
na palma da minha mão e por ter sonhado versos exageradamente clichês e
repetitivos como esses, a fim de te arrastar para longe dessa inércia.
Como poderia desejar que não encontrasse
donzela alguma dentre tantas das suas batalhas? Nunca bateria em minha porta,
apesar da dor de ver quem se ama partir, a ideia do seu isolamento infindável.
Perdoa-me pela insanidade de quem se entrega. Propaguei sensibilidade demais.
Fui louca. Por ti. Na tentativa ingênua de tornar-me semente para que você me
regasse, protegesse e transformasse na flor mais linda do seu oásis."
Isadora Egler
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