quarta-feira, 28 de maio de 2014


"Às vezes surge essa vontade incômoda de chorar um texto para fora de mim. Um âmago forte, que corrói, arde, e nos infla até que a dor seja estourada como um balão e as palavras já tão naturais escorram dos olhos. Por desespero, na tentativa de refugiar tudo isso que sinto e tornar imortal esse sentimento, no caso de dias em que me parece que brevemente nem toda a poesia do mundo conseguirá abrigar esse pesar, essa gravidade que se chama “amor” e me puxa para tão perto dos seus olhos perversos.
Sou capturada, constantemente, pela armadilha de ter que explicar a minha falta de sensibilidade perante os maiores horrores e rangeres de dentes. Ora, haveria de existir uma maneira de compensar meus excessos. Admito: as lágrimas de um escritor são seus versos. Ser realista nunca foi um santo remédio. Optei pela dor de cravar em meu próprio coração uma adaga, na busca de algo que me bombeie sem esforços: melancolia.
Acontece, anjo, que isso nunca foi sobre mim. Não te recomendaria a rima alguma. Enganam-se, entretanto, aqueles que pensam que o poeta domina a sua própria poesia. Aviso-lhes: não se faz eu-lírico. Torna-se. Nessa orquestra de frases sem palavras e desconexas com o íntimo de nossas almas, o som da sua melodia tocou meu coração como se fosse corda.
Que equívoco enorme foi apaixonar-me por seu mar inquieto. Confesso que sempre fui adepta a aventuras, mas de exatos 8 meses, 5 dias, 2 horas e 35 minutos pra cá, tenho me afogado todas as noites. Um choro de criança, ou talvez a voz da esperança. De repente é como se as semanas perdurassem anos, os segundos perdurassem séculos, milênios talvez. Ansiedade. Ou talvez o seu nome.
Poderia ter todos aos meus pés, mas do que me adiantaria? Continuaria te tendo na minha cabeça. Não aguento mais ter de te ver preso como obra prima atrás dessa parede de concreto que se chama mistério. Deveria ter revisto mil vezes os contratos antes de comprar a sua ideia de amor, querido. Mas você me conhece, sou impulsiva. Talvez não por opção, à priori. Agora estou condenada a passar o resto de meus dias encantada com uma fotografia coberta, feita pelo maior artista que captura amor.
Não tenho o estômago necessário para esquecer-me da sua aura. Abandonar esse amor não poderia jamais. Entenda que, para domadores de estrofes e rabiscos, apagar parágrafos pode ser o pior dos sinônimos de dor. Assusto-me ao encontrar sua essência que serve de guia na escuridão, mas afinal, como diria o grande mestre domador de palavras, “essa ferida, meu bem, às vezes não sara nunca, às vezes sara amanhã”. Só espero que não faça as malas tão cedo, pois minhas rimas ainda não se preparam para receber como hóspede nenhum outro assunto senão a nossa inexistente paixão. "
Isadora Egler

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