segunda-feira, 5 de maio de 2014

  

"Será que nunca entenderão que escrevo, não pelo puro prazer e por mero capricho, mas por necessidade? Entre quedas e decolagens, aprendi que poemas são nada mais nada menos do que as ruínas de um coração que teima em se reerguer. Após horas, dias e noites, meses que pareceram anos e séculos que passaram mais rápido do que nunca, percebi que não basta conectar versos soltos de um momento de dor. Escrever é a cura para toda a desordem de uma mente insana que roga por inconstância e, dessa vez, o meu texto não tornaria implícito você.
  Não diria que dói machucar-me com minhas fantasias. Mas diria que incomoda. Tendo meus espinhos, machuco-me mais a mim mesma, do que aos outros. Olhando a lua, como tantas vezes já me peguei fazendo, indaguei-me por que o sofrimento é tão bem vindo na casa dos que sentem demasiadamente. Formulei, rapidamente, uma teoria furada (digo rapidamente, porque essa resposta deve, sim, estar intrínseca a mim). Aqueles que transfiguram a realidade doente na qual vivemos em sonho, clamam por algo que os tire do comum obviamente porque arte é percepção. Uma vez que a percepção somente se ocasiona em crises existenciais, momentos de desgraça profunda ou de paixões que rasgam a carne, conclui-se que a estabilidade torna-se veneno. Alguns abominam pequenas mudanças no sentir, enquanto a casta daqueles que amam a dor, abomina o que é suficiente. E é por isso que o poeta sempre se apaixona por aquilo que não pode tocar.
  O amor de um trovador é puro. Se apaixona por tudo. Por olhos brilhantes, pela lágrima em seus sonhos, pelo caminho na chuva... se apaixona porque precisa de amor para alimentar a sua poesia. E é, por isso, a forma mais inocente e verdadeira de gostar de alguém. Há quem não saiba, entretanto, lidar com a poesia. Só não pense que será aquele que acabará com a minha vontade de cheirar as flores.
  Viajando no tempo e pensando em tudo que já arrancou bons e maus suspiros do meu ser, percebi que já me entreguei aos dois lados do extremo. A arrebatamentos essencialmente racionais e àqueles que respiram sentimento, porque oxigênio os mataria. Nenhum deles, no entanto, foi capaz de sanar a minha loucura que imagino cada dia mais, pode não ter cura alguma.
  Entendi que essa coisa toda de destino pode não ser para algumas pessoas. Talvez por um caráter divino que enxerga que finalmente encontrar um amor definitivo, mataria a nós mesmos, melancólicos. Não tente, portanto, dizer-me que preciso ir com calma. Tenho consciência plena de meus sentidos, que mudaram tanto, ao longo dessa montanha russa que é viver ansiando o novo. A poesia me basta. Possivelmente, para alguns, o amor é isso mesmo, radiação. Às vezes, nem mesmo outra alma sensível entende nossa melancolia.
  Deduzo que tento convencer-me de que os momentos de desconforto são essenciais. Nada precisa estar no lugar. Afinal, como um pássaro que canta todos os dias a mesma canção poderia perceber o leque de melodias existentes, se não sendo preso em uma gaiola? Atraio-me, por fim, para a ideia de que não preciso trancar-me em uma cela. Nem me proteger. Posso ser e sentir. Expelir vontades. Sem ti."
Isadora Egler

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