"Entre tantos devaneios, a cabeça
rodando após um ou dois copos de uísque, volto para casa cambaleando e me
apoiando apenas na promessa de que o passar da noite levaria embora toda essa
inércia impregnada em meu corpo.
Descendo a rua vazia e
silenciosa, com a companhia apenas de becos abandonados e gritos abafados, me
deparo com a imagem da lua branca e petrificada logo no fim da estrada. Chamava-me.
Passados alguns instantes perdurando pensamentos insanos sobre essa malandra, pus-me
a pensar: o desejo pela lua, que surge sem motivo no caminho abandonado que a
torna tão próxima, é fruto de amores inalcançáveis. A lua seduz como se pudesse
nos abraçar com seu brilho, como se nos esperasse de braços abertos,
acompanhada de buracos negros que esconderiam os pesares da vida, no fim dessa
viagem que chamamos de dor. Como o seu sorriso que prevê juras de paixões que
poderiam ser tanto, mas insistem em ser nada.
Corre em minha mente, me
congelando mais uma vez em frente a esse cobertor de estrelas, uma cena tão
corriqueira de minha infância, já deixada para trás perante as obrigações que
trazem o passar dos anos. Minha mãe gritando em noites que a felicidade parecia
duradoura... “Menino, volte já! Pensa que é dono de si mesmo?”. Nunca fui.
Costumava ser o menino dela. Agora, sou o seu.
Chegando em casa, me arrastando
para finalmente encontrar o conforto de um lar após uma noite tão pagã, me
joguei sobre o sofá sujo com a espuma já quase desfeita. Levantei-me. A
enxaqueca me consumia, mas a ressaca era moral. Não conseguia pegar no sono de
maneira alguma. Alcancei na mesa de cabeceira algumas fotografias suas e conclui
que, sem dúvida, me tornaria seu anfitrião a qualquer hora da madrugada em que
você precisasse chorar em meus braços por ele. Por você.
Dirigi-me até o escritório a fim
de pegar algumas folhas de caderno rascunhadas com seu nome. Não diria que a
insônia e a poesia são boas amigas, mas convivem juntas por necessidade.
Aturam-se, afinal, é no calar da noite que surgem os versos mais lindos, quando
seu nome mora em minha mente e insiste em fazer acampamento.
Sinto-me nostálgico. Se eu
soubesse a importância que teria aquela velha máquina de escrever herdada de meu
avô, jamais teria a chamado de bugiganga e a jogado no lixo. Pensando bem, essa
melancolia toda deve ser apenas a preguiça causada pelo efeito do álcool. Minha
musa inspiradora, sua saudade me corrói. Sinto-me pesado, mas vazio sem seu
carinho. Gostaria da cor de suas bochechas rosadas que silenciariam todos os
demônios que abrigo dentro de mim. Gostaria de transformar-te em poesia.
Entretanto, querida, há realidades tão tóxicas que só poderiam ser transcritas
em forma de prosas malditas..."
Isadora Egler
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