segunda-feira, 26 de maio de 2014

            "Gosto desses seus versos doentes, impregnados de dor. Você realmente quer essa mulher? Pague o preço que lhe é cobrado. Mulheres jogam duro, parceiro. Sacia-me a ideia de cada parte do seu corpo se contorcendo por amor. Enquanto pensa que ela te quer sóbrio, não imagina que seu único desejo é lhe embebedar em uma cama de domingo. Isso, acende mais um cigarro. Quem sabe assim não apaga a dor. Envenena-se com a sua própria poesia.
De tanto brincar de poeta, acabou com a sina de amantes incondicionais. Nesse mundo, colega, a vertigem é constante. Não adianta cuspir um galanteio aqui ou ali. Você tá jogando com uma mulher de verdade. E quer saber? Boa sorte. Porque seus versos me enojam e o seu orgulho me fere. Lembra-se daquela noite em que me deixou doente por um beijo que nem mesmo existiu? Quando seus dedos tocaram o meu corpo como verdadeiras teclas de piano? Era claro como o uísque barato que escorria de nossas bocas que um romance como aquele seria berçário para futuras mentiras. Seus lábios tinham gosto de cigarro e bebida barata. Como poderia não viciar? Seus olhos vagavam pelo céu negro e, naquele momento, vi no inferno astral que meu paraíso era leão. Procurávamos por liberdade, mas quando palavras fugiam de sua boca, parecia que se perdia cada vez mais dentro de si. Vaidoso, mesquinho. Dono do meu coração. Queria ver-me queimar nesse inferno sempre presente na sua prosa. Acontece, amor, que nessa história não sou Dante.
Naquele frio de gotas finas que, mais tarde, lembraria a solidão de estar ao seu lado, fui-me embora. Tenha esquecido, talvez, fragmentos de minha alma na palma de sua mão. O pior erro havia sido cometido. Passaria agora noites de loucura, tendo de suportar a mim mesma em uma situação de jamais alcançar respostas para os questionamentos de um ser que prova da paixão. Pilantra. Lembra-se de quando chegamos a acreditar que seríamos combustível para a mais brilhante das explosões? Simplesmente por sermos nós mesmos. Pois costumávamos ser eternos. Dois artistas em busca do pecado que é viver sobre um teto de vidro chamado ‘poesia’. Mal sabia eu que aquele vazio que há tanto já cortava a sua carne, serviria como abrigo em tempos de chuva de granizo.
Espero que lhe doa, que lhe arranque suspiros e leve para sempre a vontade do inconstante embora. Espero que dilacere a sua carne. Que ao oferecer a mão, não consiga cumprir a promessa de fazer alguém feliz. Seu falso romantismo será apenas a largada para lamentos reais. Porque essa moça, rapaz, nunca te dirá não. Você sabe o quanto é valiosa a verdade. Dói apenas uma vez. Não fica por aí, zanzando em forma de “talvez”. Sofra por essa mulher como pena pela maior infração de, tantas vezes, fingir amor que se fez cravo quando tudo pareciam rosas."
Isadora Egler

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