De tanto brincar de
poeta, acabou com a sina de amantes incondicionais. Nesse mundo, colega, a
vertigem é constante. Não adianta cuspir um galanteio aqui ou ali. Você tá
jogando com uma mulher de verdade. E quer saber? Boa sorte. Porque seus versos
me enojam e o seu orgulho me fere. Lembra-se daquela noite em que me deixou
doente por um beijo que nem mesmo existiu? Quando seus dedos tocaram o meu
corpo como verdadeiras teclas de piano? Era claro como o uísque barato que
escorria de nossas bocas que um romance como aquele seria berçário para futuras
mentiras. Seus lábios tinham gosto de cigarro e bebida barata. Como poderia não
viciar? Seus olhos vagavam pelo céu negro e, naquele momento, vi no inferno
astral que meu paraíso era leão. Procurávamos por liberdade, mas quando
palavras fugiam de sua boca, parecia que se perdia cada vez mais dentro de si.
Vaidoso, mesquinho. Dono do meu coração. Queria ver-me queimar nesse inferno
sempre presente na sua prosa. Acontece, amor, que nessa história não sou Dante.
Naquele frio de
gotas finas que, mais tarde, lembraria a solidão de estar ao seu lado, fui-me embora.
Tenha esquecido, talvez, fragmentos de minha alma na palma de sua mão. O pior
erro havia sido cometido. Passaria agora noites de loucura, tendo de suportar a
mim mesma em uma situação de jamais alcançar respostas para os questionamentos
de um ser que prova da paixão. Pilantra. Lembra-se de quando chegamos a
acreditar que seríamos combustível para a mais brilhante das explosões?
Simplesmente por sermos nós mesmos. Pois costumávamos ser eternos. Dois
artistas em busca do pecado que é viver sobre um teto de vidro chamado ‘poesia’.
Mal sabia eu que aquele vazio que há tanto já cortava a sua carne, serviria
como abrigo em tempos de chuva de granizo.
Espero que lhe doa,
que lhe arranque suspiros e leve para sempre a vontade do inconstante embora.
Espero que dilacere a sua carne. Que ao oferecer a mão, não consiga cumprir a
promessa de fazer alguém feliz. Seu falso romantismo será apenas a largada para
lamentos reais. Porque essa moça, rapaz, nunca te dirá não. Você sabe o quanto
é valiosa a verdade. Dói apenas uma vez. Não fica por aí, zanzando em forma de “talvez”.
Sofra por essa mulher como pena pela maior infração de, tantas vezes, fingir amor
que se fez cravo quando tudo pareciam rosas."
Isadora Egler
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